segunda-feira, 3 de maio de 2010

Angra dos Reis debate o consumo de crack

Além dos palestrantes Marcelo Yuka, Orlando Zaccone e Maria Teresa Aquino, também compareceram à audiência Luciane Rabha, Secretária de Educação, Adolfo Henrique Reis, promotor público, Juliana Bessa Ferras, juíza da Vara Criminal, representantes da OAB, Comen, Colégio Naval e do 33º Batalhão da PM.

População marcou presença na audiência pública

População lotou barracas montadas do lado de fora do plenário


Cerca de 160 pessoas foram à Câmara de Angra dos Reis participar da audiência pública sobre a prevenção ao uso de crack. Além dos presentes, que lotaram o plenário e as bancas montadas no lado de fora da Casa, a população participou ativamente do evento, enviando perguntas por e-mail e telefone.

Maria Teresa Aquino, coordenadora do NEPAD/UERJ e uma das grandes autoridades em crack no Estado, proferiu palestra sobre os efeitos do consumo da droga no organismo humano. Além disso, a psicóloga falou, ainda, sobre os aspectos sociais que envolvem o uso da droga.

Investimento em educação e fortalecimento dos laços familiares foram citados como principais métodos preventivos contra o uso da droga. Tanto Maria Teresa como a juíza criminal Juliana Bessa Ferraz destacaram esse fato em seus discursos.

Já o delegado da Polinter, Orlando Zaccone, destacou a ineficiência das políticas de repressão ao consumo e ao tráfico de drogas e afirmou que a repressão é mais danosa à sociedade do que o consumo em si.

- Quanto mais se investe no combate às drogas, mais cresce o consumo e surgem novas drogas. Muito do que hoje é considerado ilícito, nasceu lícito. Poucos sabem disso, mas antigamente se comprava cocaína em farmácia. O que define a proibição de substâncias psicoativas são decisões políticas. Este jogo repressivo também envolve um jogo de poder que deve ser observado e discutido – afirmou Zaccone.

O músico e ativista Marcelo Yuka aprofundou a questão, levando a discussão para o aspecto social. Segundo ele, o crack atinge, principalmente, a parcela marginalizada da sociedade, que sempre sofreu com o uso abusivo de entorpecentes.

- Antigamente, os marginalizados cheiravam cola, agora fumam crack. Mas o problema sempre existiu. A diferença é que agora não só os homens de bem são afetados, mas também os homens que possuem bens. Uma pedra de crack custa barato, mas manter o vício é caro. Agora a sociedade está mais atenta ao vício do miserável porque o patrimônio de muita gente está sendo ameaçado – alegou Yuka.

Zaccone reforçou que o uso de substâncias psicoativas sempre esteve presente na história da Humanidade. Segundo o delegado, não há como impedir o consumo, até porque o próprio remédio pode ser enquadrado nesta categoria.

- A política de repressão causa mais danos que o consumo em si. Com a legalização, as drogas serão tratadas como uma questão de saúde publica e não como crime. O álcool, como muitos sabem, também é muito danoso à sociedade. Mas ninguém defenderia sua proibição. A ilegalidade do álcool causaria mais prejuízos do que sua comercialização. Surgiriam gangues, mercado ilegal, corrupção, violência, tráfico, entre outros. Temos que trabalhar com a redução de danos do consumo e não na repressão – afirmou Zaccone.

Marcelo Yuka reforçou o discurso de Zaccone quanto aos males da política de repressão.

- Uma sociedade que estimula o consumo desenfreado sofre muito com as conseqüências desta política. As pessoas são julgadas pelo que possuem e não pelo que são. Isso leva muitos a fazerem de tudo para possuir o que desejam. O resultado pode ser visto, inclusive, no caso de usuários de drogas – disse Yuka, que ainda desabafou – Minha vida mudou em uma curva, numa esquina, quando assaltantes me deram três tiros movidos pelos efeitos da droga. Mas quem de fato é nosso inimigo? A droga pode satisfazer nossas necessidades e insatisfações? Muitas pessoas que defendem a repressão são incapazes de fazer um churrasco sem cerveja. Vocês conseguem ver a inconsistência disso?

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente fala daquela mãe.Disse tudo o que o povo queria. aplausos para sua atitude e coragem.