Conceição Rabha é a pré-candidata oficial a prefeita do Partido do Trabalhador (PT) para as próximas eleições na cidade. Com 55 anos de idade, foi professora regente por 28 anos e está na vida pública há 26. Em 1992, recebeu o convite para ser subsecretária de Educação e seis meses depois passou a ocupar a cadeira. Já atuou como vice-prefeita e vereadora. Na última eleição recebeu 48% dos votos válidos. Nesta entrevista, que concedeu com exclusividade ao A VOZ DA CIDADE, Conceição Rabha fala dos seus planos, no caso de vencer as eleições de 2012, para as áreas de saúde, educação, infraestrutura, saneamento e turismo, entre outros assuntos. Reconstruir Angra dos Reis com o olhar voltado para o cidadão. Esse será seu slogan. A candidata petista, segundo pesquisas, é a favorita para o pleito do ano que vem.
 A VOZ DA CIDADE: A senhora já é a pré-candidata oficial do PT?
CONCEIÇÃO: Sim. Aqui em Angra nós já passamos pelo processo de candidatura majoritária. Eu sou a única candidata do PT.
A VOZ DA CIDADE: Quais são os partidos com que o PT poderá fazer alianças?
CONCEIÇÃO: Temos conversado com vários partidos na cidade. Nosso nível de conversa só não chegou ao PMDB, porque, embora exista uma aliança nacional e regional, não existe uma aliança local
A VOZ DA CIDADE: Por que não?
CONCEIÇÃO: Porque há uma divergência das políticas adotadas pelo grupo que está governando a cidade. Nós não somos coniventes com essas políticas, nós discordamos plenamente. Então nós optamos por não conversar. Quero deixar claro que não é com a sigla partidária. É com o grupo político que hoje domina a sigla dentro da cidade. Aí nós temos divergências, políticas, ideológicas, e em hipótese alguma nós temos condições de negociar uma aliança com eles.
A VOZ DA CIDADE: E com os outros partidos?
CONCEIÇÃO: Sim. Temos conversado com PTdoB, PTB, PSB, PCdoB, PR, PV, Psol e com setores da sociedade, que embora não tenham filiação partidária querem ajudar a discutir os problemas da cidade.
A VOZ DA CIDADE: Já existe um nome para ocupar o cargo de vice-prefeito na chapa?
CONCEIÇÃO: Os partidos têm nos apresentado nomes para essa discussão. Nós vamos delineando numa conversa para lá na frente estar definindo. Tenho conversado com o PDT do Leandro Silva, que apesar de ele estar no PR atualmente foi ele quem ajudou a organizar o PDT dentro da cidade. Essiomar Gomes é outro nome. O PCdoB ainda está na apresentação de um nome. O PSB também nos apresentou um nome, que é o do João Carlos Rabello. O PTdoB nos apresentou o nome do pastor Natanael.
A VOZ DA CIDADE: Mas existe alguma preferência de aliança partidária para compor a chapa?
CONCEIÇÃO: Na conjuntura atual, saindo o Aurélio do cenário, o Leandro Silva ou o Essiomar Gomes irão agregar bem. Será uma aliança boa e fundamental para nós. Eu tenho plena consciência que temos que trabalhar e esses dois partidos têm que estar em nossa base, governando conosco.
A VOZ DA CIDADE: Com sua experiência de professora, qual é o projeto para a educação?
CONCEIÇÃO: Primeiro, temos que discutir a questão da qualidade de ensino. Hoje, a democratização ao acesso já existe, e nós começamos esse processo em Angra em 1989, com escolas em todos os bairros. Quando assumi a Secretaria de Educação eu foquei na nova qualidade do ensino. Aquela educação construtiva, crítica e integral. A educação integral foi reconhecida mundialmente. Ganhamos dois prêmios da Unesco. Saí Brasil afora levando nosso projeto político-pedagógico e fomos reconhecidos nacional e internacionalmente. Qual é o meu foco atualmente? Resgatar a qualidade do ensino. Trabalhar a educação integral. Porque o projeto político-pedagógico tem que ser pleno. Não posso trabalhar projetos isolados. Eu tenho que trabalhar a educação para a cidadania. E a educação para a cidadania implica saúde, na assistência, na discussão de políticas do gênero, étnicas e de raça. Então, não tem como você hoje olhar a educação de uma forma isolada, é muito mais ampla. É na formação do trabalho, é na formação para a vida. Nós temos que construir conceitos para a vida. Aí vêm os valores culturais, étnicos, éticos, profissionais... por isso eu chamo de educação plena.
A VOZ DA CIDADE: A educação plena abrange a valorização do professor também?
CONCEIÇÃO: Como educadora, eu tenho um olhar para o ser humano. Na minha candidatura a prefeita eu penso, para quem eu tenho que trabalhar? Tenho que trabalhar para o ser humano. Eu não vejo nenhuma outra prioridade que não seja o ser humano. Então, dentro desse contexto eu olho a educação como sendo a base da construção do ser humano. Então é dentro dela que vou construir o ser humano de amanhã. Dentro desse contexto entra a questão da valorização do profissional. Mas não só salarial. Mas também a formação, capacitação, a oportunidade que tenho que dar para esse profissional conseguir ascender dentro da sua profissão. Aí entra a formação continuada, permanente e, claro, passar pelo processo de capacitação.
A VOZ DA CIDADE: Para dar essa capacitação, você implantaria universidades em Angra?  
CONCEIÇÃO: Claro! É aí que entra a universidade. Eu tenho que ter uma universidade presencial aqui, que é fundamental nesse processo. Temos excelentes cursos a distância. Mas com a degradação da educação pública, que aconteceu de uns anos pra cá, nós vamos ter que fazer este trabalho de inversão. Eu tenho que fazer agora a reconstrução da educação. E a universidade tem que estar presente aqui em Angra.
A VOZ DA CIDADE: Implantar universidade sem melhorar o Ensino Fundamental?  
CONCEIÇÃO: Não. A base é o Ensino Fundamental. É nele que vamos ter que investir. Na criança de cinco anos, para que ela receba uma educação formada dentro dessa linha de ascensão dentro da educação. Porque aí vou ter que trabalhar todos os conceitos. Éticos, étnicos, gênero... e aí eu venho construindo a educação integral. Construir valores com essas crianças. Dentro do projeto educacional vem a construção integral. Todos os conceitos serão reconstruídos. Eu vou trabalhar o respeito à natureza, ao cidadão, ao idoso, ao próximo, isso é educação integral. Não adianta falar de escola integral, se a criança só dorme, se assiste a DVD que não mostra pra onde ela deve ir, isso não nos leva a lugar nenhum. É muito mais abrangente e profundo.
A VOZ DA CIDADE: A senhora pretende implantar universidade e melhorar o Ensino Fundamental. E quanto aos cursos profissionalizantes?  
CONCEIÇÃO: Também. Quando eu digo que vai ter escolas técnicas públicas, é porque eu vou assumir a parte profissionalizante. Dizer que isso não é responsabilidade minha é errado. A formação do cidadão da minha cidade em todos os níveis é de minha responsabilidade (caso seja eleita).
A VOZ DA CIDADE: O transporte em Angra está um pouco precário, principalmente o transporte marítimo. Há um projeto de coletivo marítimo municipal? 
CONCEIÇÃO: Angra tem um complicador. Nós estamos entre a Mata Atlântica e o mar. Então, nós temos uma pequena faixa continental entre a Mata Atlântica e o mar, onde você urbaniza. Com isso, nós sofremos diretamente o impacto ambiental. Dentro da nossa área, 84% é composta de reserva e parques. Então, as legislações estadual e federal também atuam sobre nossa área. O que resta para o município é um pequeno espaço onde temos que gerir em termos de infraestrutura. A Ilha Grande tem reservas, parques, e lá existem as três legislações em vigência: federal, estadual e municipal. A concessão de transporte para a Ilha Grande é uma concessão estadual. O que nós podemos fazer? Encontrar dentro da legislação brechas para fazermos uma concessão e nós assumirmos também. Eu não posso assumir o transporte coletivo marítimo, porque isso pela lei é uma concessão estadual. Mas um transporte turístico popular, isso eu posso fazer. E tenho um projeto pra isso.
A VOZ DA CIDADE: E com relação ao tráfego?
CONCEIÇÃO: Hoje temos que conversar a questão do tráfego dentro do município. E quando falamos do tráfego dentro do município a gente fala do que a gente pode viabilizar nos transportes marítimo, férreo e terrestre. Penso também nas ciclovias. Podemos estar viabilizando vias para os ciclistas. Mas hoje temos que sinalizar para outros meios de transportes.
A VOZ DA CIDADE: Aeroporto, por exemplo?
CONCEIÇÃO: Sim. Já existe uma discussão de que eu como vereadora participei. Mas não houve continuidade na discussão. Mas há interesse e iniciativa de parceiros privados. Vou reiniciar essa discussão e tentar viabilizar isso, porque em quatro anos dá pra fazer muita coisa. 
A VOZ DA CIDADE: Você teria tempo hábil para fazer um Aeroporto em quatro anos?
CONCEIÇÃO: Eu tenho que pensar em tudo que nós temos que fazer, mas tenho que pensar num projeto para quatro, oito, 12, 30 anos. Posso não concluir, mas tenho que sinalizar e iniciar. O aeroporto de Angra precisa ser ampliado, porque atualmente só são realizados voos domésticos e particulares. Mas temos que sinalizar para termos um aeroporto nacional. Porque angra é um dos destinos mais procurados do turismo no Brasil. O mais próximo daqui é em Cabo Frio.
A VOZ DA CIDADE: Por falar em turismo, em 2014 o Brasil sediará a Copa do Mundo. Apesar de Angra não ser uma das cidades-sede, ela está a 150 quilômetros do Rio de Janeiro, e é um dos pontos turísticos mais procurados. O que você tem de projetos para receber os turistas? 
CONCEIÇÃO: Essa parceria tem que procurar agora. Estou em processo de discussão com o setor turístico da cidade, donos de pousadas, hotéis, agendando algumas reuniões para estarmos conversando sobre isso.
A VOZ DA CIDADE: E quanto à reurbanização da cidade? Isso inclui saneamento, obras, casas em situação de risco.
CONCEIÇÃO: Eu tenho que ter todas essas políticas delineadas. Fazer o mapeamento de toda a cidade e uma reurbanização da cidade. Nós vamos ter que repensar a cidade. E o que eu tenho que fazer? Projetos habitacionais, criar novos bairros. É fundamental a regularização fundiária, para que a gente faça complexos habitacionais na cidade e reassente todas essas famílias. Isso daí é uma parceria que temos que fazer com o governo federal, e isso é tranquilo pra mim. Eu sei onde tenho que ir pra fazer as parcerias. E não tenha dúvidas que eu vou reestruturar Angra dos Reis. Não adianta colocar pracinha, florzinha, tem quer ter qualidade de vida.  Moradia digna, água de qualidade, comunidade sem contato com o esgoto, uma boa saúde, uma boa assistência. Temos que replanejar a cidade num todo.
A VOZ DA CIDADE: Qual a medida emergencial?
CONCEIÇÃO: A primeira medida é com relação à reestruturação da cidade. Introduzir um projeto ousado de infraestrutura. Eu tenho que na realidade reassentar todas as pessoas que moram nessas áreas de risco com dignidade. Plano de investimento na área habitacional na cidade. Trabalhar imediatamente para um plano de infraestrutura para Angra.
A VOZ DA CIDADE: Moradia não resolve o problema da infraestrutura. É necessário segurança pública e saneamento, entre outras medidas.  
CONCEIÇÃO: Sim. Porque eu vou ter que preparar o povo para essa estrutura de saneamento. Não adianta construir um complexo habitacional numa área de alagamento. Teremos que fazer um mapeamento de toda a cidade, começando em Cantagalo e chegando ao sertão de Perequê. Para saber quais são as áreas que posso estar formando os polos urbanos. Em quatro anos não dá pra fazer tudo, mas dá pra iniciar. Se eu tenho planejamento, eu sei onde vou chegar em quatro anos, oito anos, 12 etc.
A VOZ DA CIDADE: Se você vencer as eleições, qual a prioridade?
CONCEIÇÃO: Atacar a saúde da cidade. Colocar o hospital para funcionar. Porque são políticas paralelas. Quando falo saúde, eu falo em melhorar o esgotamento sanitário, água, meio ambiente, hospital, prevenção às doenças. Quando falo que saúde é prioridade, estou defendendo as políticas que são integradas à saúde. Aí entra a prevenção, funcionamento pleno do hospital, bons médicos, profissionais trabalhando a estratégia da saúde da família plenamente como deve ser tratada, dentro de um foco que seja o olhar para o cidadão integral.
A VOZ DA CIDADE: E de onde virá a verba para por em prática todos os projetos? 
CONCEIÇÃO: Uma prefeitura que é a quarta em arrecadação de ICMS, e a sexta em arrecadação de royalties, se investir apenas com os royalties em infra-estrutura, iremos fazer um trabalho maravilhoso. Dinheiro pra isso tem. Eu tenho que ter apenas competência e capacidade para ir buscar esses recursos. O certo é redistribuir a verba, com prioridades. Por isso que falo sem titubear que a prioridade é a saúde. Porque quando falo em saúde não é só em combate a doença e prevenção. Falo em otimizar o emprego desse recurso e buscar no governo federal recursos para investir. Temos que tornar Angra uma referência de saúde para a região Sul Fluminense. Esse hospital daqui pode ser transformado em referência.
A VOZ DA CIDADE: Qual projeto para o crescimento do quarto distrito? 
CONCEIÇÃO: Precisamos focar em política habitacional. Temos que fazer ali duas conduções. Primeiro, pensar em quem vai migrar pra lá, planejar já pensando nesse crescimento. A segunda é reassentando das famílias que estão em área de risco. Não dá pra todo ano você tirar gente de lá na época de enchente. Reconstruir bairros. Para isso, preciso ter uma equipe que trabalhe comigo em todos os sentidos e especialidades. Vamos ter que fazer um projeto de reconstrução da cidade. Tenho que colocar pessoas qualificadas e preparadas para o cargo. Não posso colocar em risco a cidade.
A VOZ DA CIDADE: Descreva o cenário político atual.
CONCEIÇÃO: O cenário político hoje é a cidade dos amigos. Grupo político dos amigos, que independente de competência, capacidade e compromisso com a cidade, eles são amigos, por causa de articulações. A gente não pode brincar, porque é a vida das pessoas que estão em jogo. A vida do morador da cidade. Não dá pra fazer negociatas. Temos que fazer negociações, mas no sentido de construção. Não dá pra colocar em risco o projeto de cidade. Eu quero ter meus aliados políticos? quero. Quero ter governabilidade? Quero. Mas não se constrói colocando os cargos prioritários em negociatas. Isso não posso fazer. Tenho que fazer minhas alianças políticas com responsabilidade. Não dá pra criar cargos e colocar gente que não tem experiência, formação, que não tem capacidade para conduzir o processo de reconstrução de Angra.
A VOZ DA CIDADE: A senhora está consciente do desafio que tem pela frente, caso ganhe as eleições?
CONCEIÇÃO: Sim. E não tenho medo. Sabe por quê? Porque eu sei como vou conduzir o processo. Quando falo na política de saúde, eu não falo apenas naquela saúde que vai dar a um médico pra cuidar, exames prontamente. É o que eu tenho que fazer nas bases. Prevenção. E aí, paralelo a isso, estou trabalhando a política da educação, infra-estrutura... o meu objetivo é reconstruir Angra com o olhar voltado para o cidadão. Uma Angra humanizada. Onde a gente sinta respeito pelo próximo, olhar solidário. É difícil? Muito. Impossível? Não. Desafio que não temo porque eu sei que se eu trabalhar com o povo, eu consigo.
Um comentário:
A reconstrução de Angra e a LIMPEZA dessa RAÇA de CCs VAGABUNDOS DA PMAR.
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