sexta-feira, 9 de abril de 2010

Misericórdia

As Santas Casas nasceram nos idos do século XVI, no Brasil, trazidas pelos missionários católicos que aportaram com os colonizadores portugueses. No início, tinha apenas caráter social, e logo depois adquiriu a característica de assistência aos doentes. Não podemos esquecer que até a nova constituição cidadã de 1988 a camada mais pobre da nossa sociedade (deserdados, escravos, soldados e etc) não possuíam nenhum atendimento do estado brasileiro. Desde a época da colônia, irmãos leigos, religiosos, famílias com seus trabalhos e doação sempre movimentaram e sustentaram este trabalho árduo e filantrópico.

Em 1836 foi fundada, com a mesma missão, a Irmandade da Santa Misericórdia de Angra dos Reis. No caso da nossa cidade, ainda havia a necessidade de atender os pacientes de malária e febre amarela, vitimados devido à exploração desordenada de nossas florestas para implantação de cafezais, principalmente no Vale do Paraíba. É fato que a Santa Casa enfrentou várias crises durante sua história, no entanto um vasto patrimônio foi adquirido ao longo desses dois séculos, oriundo de doações de famílias da região.

Talvez o que, EM PARTE, explique a deficiência financeira atual da instituição, seja a mudança do modo de financiamento dos serviços de saúde implantado no Governo Collor. Por um ato ministerial criou-se a tabela de ressarcimento do SUS, que universalizou o atendimento e estabeleceu valores ressarcimento dos serviços, que na época, por exemplo, por uma consulta médica se repassava ao prestador, dois reais, e hoje sete reais. Aliado a isto se equiparou o prestador público, ao prestador filantrópico e ao prestador privado, cometendo assim um erro de gestão, e uma falta de respeito ao papel histórico e estrutural destas entidades não lucrativas na assistência a saúde do nosso país.

Em reação a esta crise que se instalou no país, as prefeituras, com a constituição de 1988, agora gestoras da saúde das cidades, começam a reagir com várias ações. Em nossa região, a prefeitura de Paraty estatizou o hospital Pedro Alcântara, e aqui optamos pela Intervenção e depois a Co-gestão – o que eu refuto ter sido, na época, uma grande solução para reduzir a Crise. Durante este período, foram feitos investimentos em serviços e gestão, com a melhora de atendimento ao povo e, melhor ainda, com a participação do movimento popular em sua administração. Infelizmente, este processo não teve a continuação e a devida atenção nos Governos de Fernando Jordão. Assim, espero que o novo Prefeito, os Vereadores, a Provedoria e os Profissionais de Saúde tenham a noção de Misericórdia.

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